----- Original Message -----
From:
João Carlos CascaesTo:
leitor@gazetadopovo.com.brSent: Tuesday, October 13, 2009 2:11 PM
Subject: O transporte coletivo urbano e as cidades
Prezados senhores da Gazeta do Povo
Referência: reportagem "Pondo fim no egarrafamento"
Tenho as seguinte considerações a fazer:
O transporte coletivo urbano e as cidades
Os engarrafamentos custam caro ao Brasil
[i] e ao mundo
[ii]. O transporte coletivo urbano é uma das formas de solução para esse pesadelo, recurso que deve ser atraente, eficaz, racional.
A FIFA e a Copa do Mundo fizeram um tremendo favor ao Brasil, mostrar a necessidade de aprimoramento da infraestrutura urbana no Brasil. O que disseram não era novidade, serviu, contudo, para acordar nossas lideranças civis para o pesadelo existente nas grandes cidades brasileiras em torno do transporte, mobilidade, segurança, qualidade de vida, enfim.
Não podemos desprezar uma série de situações que nos levaram ao atraso generalizado, talvez a mais importante tenha sido a quebra financeira do Brasil, que se evidenciou com a moratória unilateral em 1987 (repetindo 1937), assustando o mundo financeiro e empresarial. No início da década de 90 do século passado Curitiba precisou transferir dívidas para o estado do Paraná (CIC) para resolver sua condição de acesso a créditos até então inviáveis. Isso não aconteceu sem razões, com certeza muito mais pela nossa incapacidade de superar desafios com o uso da inteligência e competência política, força para recusar soluções “fáceis” e perigosas.
Felizmente o Brasil melhora suas contas e já pode sonhar com grandes projetos. A questão é: podemos pagar? Quais são as nossas prioridades?
Não podemos esquecer que qualquer entidade precisa ser administrada diante da seleção de projetos e orçamentos meticulosamente selecionados e avaliados. Do caminhar até a utilização do transporte individual de luxo existe uma escala de opções que qualquer cidadão precisa escolher de acordo com sua capacidade de pagar. Isso não é diferente para as cidades. Tarifas de serviços públicos e impostos dependem de custos e investimentos que produzimos.
Para a Copa de Mundo temos alternativas que diminuem à medida que o tempo passa. Precisamos de muito para atender o que nossos dirigentes prometeram. Entre eles temos o metrô, obra colossal diante dos recursos e desafios de Curitiba.
Um grande projeto não é a mesma coisa que fazer uma recapagem de alguma rua. A prudência técnica, financeira, social, política e ambiental exigem, em seu conjunto, uma série de passos que devem ser feitos com muito cuidado. O desprezo pela boa administração é um crime de responsabilidade, infelizmente ainda não tipificado de forma adequada em nossa legislação.
Mobilidade urbana [que de acordo com o Ministério das Cidades (2006) “é o resultado da interação dos deslocamentos de pessoas e bens entre si e com a própria cidade. Isso significa que o conceito de mobilidade urbana vai além do deslocamento de veículos ou do conjunto de serviços implantados para estes deslocamentos. Pensar a mobilidade urbana é mais que tratar apenas transporte e trânsito"] começa pelas calçadas, algo que em Curitiba merece uma revisão drástica, talvez se passando para a prefeitura a responsabilidade de planejar, fazer e manter as calçadas, pelo menos nas ruas e avenidas estratégicas ao transporte coletivo urbano. É interessante observar que o mais simples é, via de regra, ignorado pelos planejadores, mas, vamos insistir, calçadas são parte inerente, essencial a qualquer sistema de transporte coletivo urbano.
Todo usuário do transporte coletivo ao sair de dentro de suas paredes e muros estará pisando em passeios que precisam ser feitos e mantidos com o melhor padrão possível de modo a garantirem acessibilidade, segurança e conforto ao pedestre. Para as calçadas vale a mesma lógica de fluxo e qualidade das ruas com seus automóveis, caminhões, carroças e assim por diante, extremamente exigentes e foco de todo programa político.
O modal, sistema, tecnologia, a solução para o transporte coletivo é aquela mais ajustada a todos, diminuindo poluição, reduzindo tempos de deslocamento, atraindo usuários do transporte individual e, acima de tudo, cabendo no orçamento do contribuinte, usuário e comunidades (local, estadual e federal) que sempre precisam distribuir seus recursos entre o transporte, segurança, educação, saúde, saneamento básico, esporte, lazer, cultura, religião etc., ou seja, mais uma vez enfatizando, decidindo em torno de prioridades. Não podemos ignorar a situação de populações marginalizadas, mais e mais reféns de governos paralelos (traficantes, em destaque) para sobreviverem em lugares insalubres, morando em barracos, carecendo de creches, escolas e até de saneamento básico.
Que soluções existem, pois?
Andar, usar bicicletas, motocicletas, taxis, ônibus, trens, metrôs, barcos e até helicópteros. De um extremo ao outro tudo dependerá que quanto o cidadão puder pagar e entender como justo e adequado.
Para Curitiba temos o projeto do metrô, ótimo, é caro e que seja feito com todos os cuidados possíveis, sem pressa, deixando de lado outras prioridades que não sejam aquelas fundamentais à cidade.
Os ônibus podem melhorar muito, é só querer, desde que se viabilizem subsídios adequados, talvez reeditando a hipótese da frota pública e/ou prevendo-se adicionais fiscais para compensar custos. Ou seja, diante da situação contábil do município de Curitiba, é fundamental que todos se lembrem que o simples aprimoramento do transporte coletivo urbano com ônibus precisa de recursos adicionais que deverão vir de impostos já existentes, pois as tarifas estão no limite para o povo que não tem outra opção de deslocamento.
Temos ciclovias descontínuas e falta de calçadas, assim as antigas ciclovias são o caminho dos andarilhos, dos pedestres, daqueles que optam por caminhar e servem muito mal aos ciclistas. Sinal disso é ver os bicicletários fechados, afinal, existem para quê? Impõe-se, portanto, corrigir o sistema de ciclovias existente em Curitiba e ampliá-lo onde for possível.
Caminhar, usar ônibus, bicicletas, trens, metrô e outras coisas que poderemos descobrir dependem, contudo, de segurança. Temos?
Arborização mal feita, calçadas impraticáveis, iluminação inadequada, sinalizações precárias, risco de violência (atropelamentos, assaltos, agressões físicas e morais) levam qualquer família a optar pelo transporte motorizado individual.
Concluindo só podemos aplaudir a Gazeta do Povo quando põe em discussão os problemas da cidade, normalmente em seu excelente caderno “Vida e Cidadania”, colocando opiniões de especialistas que merecem ser ouvidos e discutidos.
Atenciosamente
João Carlos Cascaes
Curitiba, 13 de outubro de 2009.
RG 850.694-9
[i] R$ 34 BI: O CUSTO DO ENGARRAFAMENTO DE SP É IMPRESSIONANTE
O tempo que os paulistanos perdem no congestionamento na cidade de São Paulo gera um custo de R$ 26,8 bilhões por ano. Esse valor é o que 3,7 milhões de pessoas deixam de produzir por ano porque ficam paradas nos congestionamentos de São Paulo.
O custo com gasolina, diesel, transporte de produtos e cargas gerados pela lentidão dos carros por causa dos congestionamentos em São Paulo chega a R$ 6,5 bilhões por ano. Os dados são de uma pesquisa do vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas Marcos Cintra (
clique aqui para ler o artigo na Folha de S. Paulo - ).
O assessor de Marcos Cintra, Luís Carlos da Silva, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta quarta-feira, dia 16, que o custo total do congestionamento para a cidade de São Paulo chega a R$ 34 bilhões por ano.
“Mas é bom sempre fazer uma diferenciação. Os R$ 27 bilhões é o que se deixa de produzir e os R$ 6 bilhões é o que a gente está gastando a mais de combustível e está tendo prejuízo na saúde da população”, disse Luís Carlos.
Segundo Luís Carlos obras que exigem grandes gastos como os túneis Ayrton Senna, Jânio Quadros, Rebouças, Faria Lima e a ponte do Real Parque (Ponte Octavio Frias de Oliveira) não resolvem o problema.
“Você joga o congestionamento 500 metros pra frente. Então, o que está sendo sugerido? Você pega uma ponte comum, como a Cidade Jardim, por exemplo, ela custa, aproximadamente, R$ 30 milhões. Uma ponte simples. Se você utilizasse esses R$ 3 bilhões, daria para você produzir, construir aproximadamente 80 pontes igual àquela da Faria Lima, atravessando. Hoje você tem 30 pontes na Marginal Pinheiros e Tietê. Você construiria pelo menos mais uma 80 (pontes). Isso já desafogaria muito o trânsito, nas marginais, nas vias...”, disse Luís Carlos.
Luís Carlos disse que o professor Marcos Cintra sugere a “revascularização” das vias de São Paulo para melhorar o trânsito.
“Ele criou um conceito, uma revascularização do trânsito e imaginou isso como acontece em Manhattan, que é um sistema reticular. E aqui é muito comum, se você sobrevoar a cidade, você vai ver que essas grandes vias estão entupidas e o entorno delas estão entupidas. Só que um pouco mais adiante você vai ter vias ociosas. Então, ele tem falando muito nessas aberturas, em vários pontos da cidade isso é possível, aberturas dessas vias no sentido de criar espaços alternativos”, disse Luís Carlos.
http://blogchicao.tripod.com/custocarro.html[ii] O custo dos engarrafamentos nos EUA
Em 2007, pela primeira vez em 16 anos, os engarramentos diminuíram em 439 áreas urbanas dos EUA. Mas o problema não foi resolvido.
Entre 2006 e 2007 os congestionamentos obrigaram os norte-americanos das áreas urbanas a gastarem 4,2 bilhões de horas a mais no trânsito e a utilizarem 11,2 bilhões de litros extras de gasolina. O custo de todos estes atrasos chegou a US$ 87,2 bilhões, um aumento de mais de 50% em relação a 1997.
O problema afeta áreas metropolitanas de todos os tamanhos, mas principalmente as maiores. Os motoristas de Los Angeles são os que mais sofrem: em 2007 eles passarem em média 70 horas em congestionamentos.
A diminuição dos engarrafamentos pode ser atribuída principalmente a dois fatores: o aumento dos preços dos combustíveis e a crise econômica. A história sugere, no entanto, que os congestionamentos também retornam quando a economia se recupera.
http://opiniaoenoticia.com.br/internacional/estados-unidos-canada/o-custo-dos-engarrafamentos-nos-eua/