O planejamento de qualquer cidade precisa considerar seus sistemas de transporte e trabalhar para que se aprimorem. Por mais competentes que sejam os profissionais dedicados a esse trabalho, é fundamental que tenham capacidade para sempre analisar e corrigir eventuais erros, agregar inovações e, se necessário, mudar tudo.
Em matemática falamos muito em não linearidades, descontinuidades, em equações que a partir de certos momentos exigem novos parâmetros e relações ao representarem fenômenos específicos. Sociólogos e historiadores poderão ilustrar com inúmeros exemplos cenários de mudanças drásticas e os engenheiros terão como explicar o que é saturação, degradação, limitações numéricas além das questões que agora chamam mais atenção tais como poluição, necessidade de mudança de fontes de energia etc. Cada profissão cria especialistas que podem e devem estudar os efeitos do transporte coletivo urbano, pois nada é mais amplo e multifuncional quanto a necessidade de sistemas de deslocamento de trabalhadores, diletantes, estudantes, idosos, deficientes, empresários, militares, mestres e doutores, enfim, os cidadãos que compõem uma sociedade.
Além das questões tão em voga na mídia precisamos considerar os impactos diários, os efeitos econômicos e de segurança sobre todos, contribuintes e usuários, além das implicações políticas. Um exemplo que merece ser estudado é a construção dos metrôs do Rio de Janeiro e São Paulo. No primeiro caso o governo federal simplesmente se afastou, deixando a cidade durante décadas com buracos enormes enquanto em São Paulo despejou muito dinheiro, ainda que insuficiente para a malha que essa metrópole precisa, no mínimo dez vezes maior do que a existente. Ou seja, a falta de cuidado expõe a cidade aos caprichos políticos federais e atrasos terríveis...
Observando cidades mais desenvolvidas, constatamos que, por exemplo, a favor da segurança do usuário do transporte coletivo e do cidadão comum, os sistemas de superfície deslocam-se com cuidado, respeitam os veículos menores, não tem compromisso rígido de horário que, por sua vez, é informado aos passageiros a expectativa de tempo de deslocamento. O fundamental é não colocar em risco a população, nem exigir milagres do motorista, do piloto do bonde, metrô de superfície etc.
Maior capacidade se obtém com a utilização de vias isoladas de fato (na superfície, elevadas ou subterrâneas), aplicação de engenharia (sincronização de semáforos, operação “on line”, utilização de viadutos, trincheiras, bilhetagem externa, integração horária, túneis, veículos modernos com todos os recursos de frenagem, aceleração, suspensão, potência etc.), tudo feito para se obter ganhos, ainda que milimétricos, na utilização do que existir de melhor na indústria e serviços dedicados ao transporte urbano.
É importante repetir, a segurança da população é inegociável.
Obviamente os bons sistemas são subsidiados. Qualquer um é subsidiado, se agregarmos ao custo do transporte coletivo o preço de construção e manutenção dos espaços que ocupam. Assim têm privilégios fiscais e impostos dedicados, sempre lembrando o ganho sistêmico da utilização de ônibus, bondes, metrôs, taxis, bicicletas (transporte individual) e até barcos onde os rios, lagos e mares se prestam a isso.
Curitiba está num momento de inflexão, a cidade precisa decidir sobre o que usará a partir de poucos anos. Graças à FIFA temos um prazo, uma data; santa FIFA! O desafio agora é tomar as melhores soluções, nem sempre tão óbvias quanto possam parecer.
Cascaes
5.8.2009
Um comentário:
É um erro querer erradicar as linhas ferreas do centro de Curitiba, Pinhais, a linha central que vai a Pinhais, linha que vai ao Norte de Curitiba. A Prefeitura e o Governo Federal deveriam repensar o transporte ferroviario! A linha de trem de cargas deveria ser totalmente por fora da Regiao Metropolitana, ao longo dos Contornos Viarios e as linhas existentes no centro de Curitiba e arredores, transforma-las em linhas para bondes ou trem eletricos de passageiros.
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