segunda-feira, 29 de março de 2010

Um questionário oportuno sobre o transporte em Foz do Iguaçu

Um bom questionário


O tema transporte coletivo urbano merece uma discussão profunda e ajustes permanentes, pois envolve inúmeras visões, disciplinas e realidades. Do Gabriel Azevedo, Foz do Iguaçu e Sociedad Peatonal, tivemos o questionamento apresentado a seguir que merece divulgação, com as respostas que nos atrevemos a dar e que o Boletim do Condomínio permite-nos divulgar.

01) Em Foz do Iguaçu, do ano 2000 para cá, houve uma redução de 50% no número de passageiros do transporte público. Isso se deve ao aumento da frota de veículos na cidade (impulsionados pela redução do IPI e o aumento na oferta de crédito) ou a queda na qualidade do transporte?

- Todas as hipóteses podem estar corretas.

- Seria fundamental uma boa pesquisa.

02) No mês de abril, em Foz, deve ser lançado o edital de licitação para exploração do transporte público. Em que itens a população e principalmente os vereadores (em tese, fiscalizadores do Poder Executivo) devem ficar atentos?

- Começa mal com a palavra “exploração”.

- O transporte coletivo urbano deve ser visto como atividade que deve oferecer rentabilidade justa, afinal ninguém quer trabalhar no prejuízo, mas deve ser entendido como algo a ser feito em parceria com o poder público, pois depende de subsídios para ser de boa qualidade e acessível, até em países ricos.

- Muita atenção para os padrões técnicos a serem exigidos para os veículos, a supervisão, rastreamento dos ônibus, terminais (segurança, conforto, funcionalidade), segurança dos passageiros onde as coisas começam nas calçadas, iluminação pública, policiamento e terminam dentro dos carros coletivos.

- Afinal, muita engenharia, arquitetura, design, layout, urbanismo, política de subsídios etc.

03) Em Foz, o custo da passagem é R$2,20. Porque o custo da passagem do transporte público é tão cara, se o serviço é tão ruim? Os donos das empresas justificam que, se não fossem as gratuidades, a passagem seria de no máximo R$1,50. Isso é verdade?

- O conceito “ser caro” depende da qualidade oferecida. A avaliação do custo depende de análise matemática, meticulosa e permanente por diversas entidades. Um serviço que movimenta tanto dinheiro com facilidade consegue cooptar aliados...

04) Em Foz, a grande maioria dos usuários do transporte público são estudantes pobres e trabalhadores informais. O transporte público é ruim porque é utilizado, na sua grande maioria, por pessoas das classes baixas? Se a classe média utilizasse o transporte urbano todos os dias, o transporte seria melhor?

- Com absoluta certeza.

05) Qual é a opinião de vocês sobre o transporte 100% público. Ou seja, aquele totalmente financiado pelo estado, em que não existe a exploração de empresas privadas?

- O financiamento total existe em grandes sistemas (metrôs, por exemplo). O drama é a administração pública, entupida de leis pouco inteligentes e gente muito esperta.

- Na nossa (Cascaes) opinião o ideal é termos investimentos públicos e operação privada com fiscalização e contratos severos.

- O BNDES costuma financiar com dinheiro público e condições paternais os empresários do transporte coletivo urbano.

06) O que a população deve cobrar na questão do transporte público (ar condicionado, sistema anti-lotação, câmeras de segurança, pista exclusiva para ônibus)?

- O ônibus pode ter um padrão excelente e no Brasil a Volvo, por exemplo, fabrica e exporta chassis de excelente padrão (exportou mais de mil para Santiago, Chile) assim como a Marcopolo está habituada a exportar o ônibus encarroçado.

- Qualidade? É só querer e pagar.

- A segurança e o conforto do passageiro dependem principalmente da lotação máxima do veículo (existem até dissertações de mestrado sobre isso), baixo nível de ruído e poluentes dentro e fora do ônibus, controle de aceleração e frenagem, suspensão inteligente, bancos anatômicos, apoio para os braços, barramentos para o passageiro em pé por se segurar, piso rebaixado (fundamental com possibilidade de ajoelhamento pneumático), piso não escorregadio, espaço e detalhes de segurança para cadeirantes etc. Por isso é fundamental o pagamento por km, pois o empresário deve se desligar da rentabilidade do sistema e cuidar de suas equipes de mecânicos, motoristas, cobradores, garagistas etc.

- Obviamente pista dedicada ao transporte coletivo urbano, “onda verde”, operação “on line”, vigilância eletrônica, apoio do policiamento e bons padrões de iluminação de pista, pavimentação etc. são partes importantes.

- A importância do ar condicionado depende muito da duração da viagem, do clima local.

07) A redução da tarifa é possível, como?

- Com subsídios se não quisermos degradar o sistema mais a moralidade e a honestidade para não desperdiçarmos o dinheiro do contribuinte e o do usuário do sistema.

08) Qual é a opinião de vocês sobre a gratuidade?

- Justa para quem não tem opção.

09) Qual é a importância do transporte público?

- Fundamental à qualidade de vida, principalmente no século 21 quando tanto se fala em sustentabilidade e racionalização das cidades. O ideal, contudo, é termos opções boas de mobilidade (ciclovias, calçadas seguras, cidade segura) e uma estratégia de descentralização de atividades, teletrabalho, EAD, distribuição de horários e tudo o que dispensar o deslocamento evitável.

Concluindo, vale a pena discutir serviços públicos, pois qualquer descuido poderá significar a penalização dos usuários de concessionárias de serviços essenciais, portanto fundamentais à nossa existência.



João Carlos Cascaes

Curitiba, 27 de março de 2010

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