domingo, 5 de outubro de 2008

Tombando no tombado

Tudo pode ter sua graça. Um brasileiro famoso morreu caindo dentro de um vulcão italiano, virou referência de acidente. Tem gente que se atrapalha com a própria dentadura, outros desmancham cadeiras por serem muito pesados. Humor negro ou não, ganhamos situações que podem até servir para imagens cômicas se alguém estiver com uma filmadora ligada e captar a cena desajeitada. Aliás, as pegadinhas espontâneas são autênticas aulas de segurança, pois ilustram acidentes em ambientes em que todos deveriam ter segurança.
Preservação de imagens é algo que certamente poderá vir a ser um pesadelo urbano, se o mundo continuar mudando e a população crescendo. Naturalmente gostamos de lembrar cenários do passado. Quanto mais velhos, mais saudosistas, afinal é bom saber que em algum tempo no passado tínhamos tudo no lugar. A memória, eventualmente, poderá querer reproduzir coisas ruins. Com certeza muitos nazistas ainda se lembram com tristeza da perda dos seus tempos de glória. Eles provavelmente gostariam de tombar seus canhões e fortalezas...
No século passado a humanidade vivenciou mudanças tecnológicas surpreendentes. Tudo se transformou e todas as ciências e artes passaram por momentos especiais, alguns pouco funcionais, outros completamente malucos, todos eles mostrando a personalidade do artista, do intelectual, engenheiro, arquiteto etc.
A cidade de Curitiba viveu essas mudanças, a maior delas foi o crescimento populacional, em alguns momentos completamente desordenado e mal administrado. Assim ganhamos favelas e o agravamento do trânsito.
Não temos um sistema complementar ao transporte coletivo convencional, prometendo um agravamento considerável em poucos anos.
Curitiba é uma cidade relativamente nova. A partir da metade do século vinte ganhou expressão e qualidade de vida, chegando ao nível atual, onde é considerada modelo de urbanismo. Ótimo, mas nos deixa exigentes e preocupados com as lições que estivermos transmitindo.
Um aspecto importantíssimo é o respeito aos idosos, aos portadores de deficiências, àqueles que por qualquer razão precisam de alguma atenção maior para se sentirem seguros e livres.
Com certeza um pesadelo curitibano é a qualidade das suas calçadas. Mal projetadas, mal feitas e pessimamente utilizadas, dão desespero em quem precisa caminhar nesses lugares deserdados da humanidade. Alguns donos de banca de revistas, por exemplo, devem ter padrinhos fortes, pois simplesmente tiram boa parte da capacidade desses passeios com suas barracas. Postes e árvores inadequados é outro problema que se junta a orelhões, constituindo um conjunto de objetos que deve ser um pesadelo para qualquer deficiente visual ou dependente de cadeira de rodas.
Lei burra estabelece que o proprietário do terreno é responsável pela calçada em frente ao seu imóvel, o asfalto da rua, para os automóveis, não. Ou seja, o indivíduo motorizado tem o conforto da atenção prioritária da prefeitura, para quem precisar andar há que encontrar o dono do terreno e cobrar dele a atenção que não presta ao cidadão curitibano.
Mais ridículo que tudo isso é o tombamento das calçadas com o polêmico “petit pavé”. Essas porcarias, escorregadias, irregulares, são a base das principais calçadas de Curitiba, agredindo o direito de poder andar com segurança de qualquer cidadão. Não ocorreu aos planejadores que o desenho desse pavimento poderia ser reproduzido em calçadas não derrapantes, seguras. E dizem que têm rampas, sim, em dias de chuva não são rampas, mas locais perfeitos para se levar um tombo, pois ficam tremendamente escorregadias. O que se conclui é que nossos administradores só andam pela cidade em época de campanha eleitoral. E os planejadores, usuários de automóveis e freqüentadores de shopping centers ou das pistas para pedestres dos parques curitibanos, desconhecem ou nunca sentiram as dificuldades de caminhar numa cidade mal planejada para os deficientes físicos, econômicos, etc., isso é Brasil!
Talvez tenha alguma graça cair em calçadas tombadas, quem sabe alguém entre para a história curitibana desta maneira...

Cascaes
15.6.2005

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