domingo, 5 de outubro de 2008

Indisciplina urbana

A qualidade do sistema de transportes coletivos urbanos de Curitiba deve muito à disciplina dos habitantes desta cidade. Graças ao respeito que sempre tiveram às regras do serviço, a cidade pôde utilizar veículos com portas largas, terminais de integração, bilhetagem automática etc. Se os curitibanos se comportassem de forma negativa a administração municipal seria obrigada a determinar a instalação dos sistemas restritivos, existentes em outras cidades brasileiras, alguns deles altamente desconfortáveis e agressivos com o agravante de que reduziriam a eficácia do sistema.
O vandalismo é um pesadelo. Talvez o operário, o cidadão mais humilde não saiba que é do salário dele que sai a conta para a recuperação dos estragos feitos por jovens mal educados e adultos imbecis. A cidade perde qualidade, enfeia-se graças a pessoas que poderiam usar melhor seus talentos “artísticos”. Esse é um mal universal, entretanto, merecendo teses de doutorado e ações mais eficazes. Sintomaticamente ele aparece com mais violência em dias de jogo de futebol, quando torcedores turbinados por ambientes agressivos se vingam nos bens públicos das frustrações causadas pelos “pernas de pau” que decidiram apoiar.
As empresas de telefonia e de energia conhecem bem os efeitos da agressividade covarde dos vândalos e nós certamente pagamos essas contas todo mês. De um jeito ou de outro o cidadão comum perde dinheiro com essa gente de mal com a vida.
A indisciplina urbana também aparece nas calçadas, praças e jardins.
Em Curitiba, não bastasse a péssima qualidade dos seus passeios, ainda os temos invadidos por automóveis cujos proprietários se consideram no direito de estacionar em locais dedicados aos pedestres. Educação e policiamento é o remédio para essa doença. Pela segurança de vidros escurecidos, placas propositadamente rasuradas e até pela força física é no volante de automóveis que descobrimos indivíduos covardes abusando de seus poderes. Seria até interessante que nossos ecologistas e ambientalistas se dedicassem mais ao efeito perverso do transporte individual. Na capital paranaense centenas de milhares de automóveis transportam metade da população enquanto a outra parte precisa apenas de menos de dois mil ônibus para as suas necessidades de locomoção. Lembrando a impermeabilização do solo com o asfalto, estacionamentos, fumaça, etc veremos que esses carrinhos, que eventualmente têm carga útil em torno de 100 kg, são responsáveis por uma altíssima dose de agressão ao meio ambiente. Tudo isso se agrava quando são mal utilizados...
As cidades vão se transformando na origem e fim do ser humano. Viver no mato é algo que os teóricos da reforma agrária defendem, mas que não resiste ao primeiro aparelho de televisão ligado, quando a energia elétrica chega a seus barracos. A tendência é termos uma população residual vivendo longe das cidades, o resto convivendo, trabalhando, divertindo-se e outras coisas mais nos centros urbanos. Isso é natural, pois o ser humano é um animal gregário, sedento de companhia.
Diante da necessidade compulsiva de viver em centros urbanos nada mais justo e lógico do que aprendermos a ter educação e respeito ao próximo. Para isso o maior responsável é o prefeito e o governador, um administrando a cidade, o outro cuidando da segurança, os dois decidindo sobre a educação.

Cascaes
11.6.2005

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