sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Bilhetagem eletrônica - estamos preparados para usá-la?

Salto mortal e a Tecnologia – sistemas de faturamento - bilhetagem
O “salto mortal” é o que os trapezistas faziam sem redes de proteção e que o público fascinado via nos circos antigos. Era realmente emocionante quando em silêncio a multidão observava o ato de coragem do atleta, mas o resultado poderia ser desastroso. O espetáculo tinha custo e efeitos bem definidos...
A Humanidade é o aprendiz de feiticeiro que descobriu a varinha mágica à sua disposição e há anos faz estripulias mais e mais fora de seu controle. Dá saltos tecnológicos sucessivos sem maior atenção aos efeitos dessas “maravilhas”.
A coleção de inventos é fenomenal e aumenta sempre. O processo de criação continua gerando novidades incríveis. Tudo depende da criatividade e inteligência de pessoas extraordinárias e de conveniências industriais, serviços e comerciais. Naturalmente a transformação de “uma boa ideia” em produto é um caminho longo, incompreensível às pessoas leigas.
Nosso país não tem tradição industrial. Isso afeta demais a capacidade de gerenciamento de serviços e produtos. Sem domínio sobre a arte de fazer não sabe usar. Acreditamos em leis e decretos que são produzidos de forma assombrosa. Obviamente o Poder judiciário não entende de Engenharia, Medicina (a Engenharia do corpo humano), Física, Química e todo conjunto do que denominamos “Ciências Exatas” e similares (Medicina, exemplificando).
A ignorância é um maná para os mais espertos e um veneno para os ingênuos. A incapacidade de entender facilita a aceitação de qualquer coisa charmosa, mas os riscos crescem exponencialmente com a qualidade e utilidade do que usamos.
Estamos vendo “saltos mortais” apaixonantes, o trapezista é o pagador de impostos, o usuário dos serviços essenciais, o paciente de clínicas onde os médicos aplicam exames sofisticados etc.
Todos sabem que sequelas podem existir? Qual o custo real das novidades?
Quando entramos num prédio, passamos a jusante de alguma barragem ou decidimos viver perto de uma usina nuclear temos consciência do que isso significa?
O perigo pode existir sob nossos pés. A verticalização assombrosa das cidades brasileiras assusta.
A ingenuidade do povo leva-o a acreditar que instituições corporativas (CREA, CAU e coisas similares) garantem um padrão. Quanta inocência. A tecnologia necessária e suficiente para grandes obras escapa à quase totalidade dos nossos gerentes técnicos.
Os riscos aumentam até no Japão, onde o acidente com a Usina de Fukushima é surpreendente, mais ainda porque aquele povo não é leigo nem incompetente.
Se grandes instalações podem causar acidentes catastróficos (perguntem a bons profissionais o que significaria o rompimento de grandes barragens ou a desintegração das usinas nucleares em Angra dos Reis), detalhes não mortais, mas agressivos ao nosso dia a dia, têm condições de causar imensos prejuízos.
Quando o processo de privatização das grandes concessionárias nacionais começou criaram agências reguladoras e justificaram seus custos dizendo que tudo aquilo seria para defender o povo e empreendedores; apareceu um conjunto de repartições públicas que só faz crescer, mas corre atrás do prejuízo da irresponsabilidade de contingenciamentos de verbas praticado impiedosamente na gênese dessas instituições. Nenhum desses componentes teve os recursos necessários e suficientes para se fortalecer. De forma absurda o dinheiro destinado às agências reguladoras foi sempre reduzido ao máximo e as piores influências sempre acabaram decidindo padrões gerenciais, com raras exceções. No Setor Elétrico a complexidade do Sistema Interligado demandou a formação de uma constelação de repartições públicas e privadas que não nos salvou do racionamento de 2001 e por muito pouco não deixou o Brasil no escuro alguma vezes. É um negócio apaixonante, contudo. Muita gente enriqueceu simplesmente vendendo e comprando energia.
Serviços essenciais se são importantes precisam de bons padrões gerenciais, os melhores possíveis. Pagamos, queremos e precisamos de qualidade, confiabilidade, razoabilidade de tarifas e preços, segurança.
Vamos pensar no que mais dói, o bolso do usuário.
Como as concessionárias e os agentes reguladores calculam tarifas?
Temos um exemplo local, o sistema de bilhetagem do transporte coletivo urbano de Curitiba, onde nem a submissão a alguma agência reguladora de bom padrão aconteceu.
Implantaram a “bilhetagem eletrônica”. O sistema[1] é composto por catracas, telecomunicação, gerenciamento de informações e relatórios que produzem dados para o cálculo das tarifas e avaliação de carregamento de ônibus e terminais. Ou seja, contém muitos elementos que podem viabilizar fraudes ou simplesmente informações erradas (a favor e contra os empresários). São estratégicos, afetam diretamente a qualidade dos serviços.
Pode-se perguntar:
·         Quem e que empresa faz auditagens no sistema de bilhetagem?
·         As entidades e pessoas encarregadas de auditar tarifas e estatísticas têm preparo técnico e recursos para o trabalho que realizam?
·         Quem paga e contrata as empresas de auditoria existentes?
·         Onde estão os relatórios técnicos de aferição das catracas, manipulação de dados, qualidade dos sistemas de controle e cálculo?
·         A adoção de “novidades” tecnológicas precisa ser acompanhada de preparação a favor do povo e das pessoas que usam e cuidam dessas “traquitanas”. Isso aconteceu?
Curitiba usava um padrão de bilhetagem com fichas (feitas de azamat). Eram  fichas concretas, visíveis, bem definidas e fáceis de serem controladas. Essas fichas podiam ser testadas com balanças simples, de precisão, mas nada de especial. A compra das fichas era feita nos guichês da URBS e em alguns lugares fáceis de serem vigiados. O controle da coleta permitia a eliminação de fichas falsas e a percepção de suas origens. O custo e risco da falsificação eram elevados em relação ao ganho.
Esse sistema intuitivo, visível, fácil de ser controlado deu lugar a uma novidade: a bilhetagem eletrônica.
A bilhetagem “inteligente” deveria oferecer alternativas de uso, o que é perfeitamente compreensível. Que utilização teve? Vimos no edital de outorga de concessões a que tivemos acesso que as empresas candidatas deveriam ter experiência com bilhetagem eletrônica. Por quê? Que condição estranha, afinal os sistemas modernos devem facilitar serviços e não complicá-los.
Ou seja, assim como acontece com a maioria dos serviços essenciais simplesmente pagamos a conta, sem saber e ter convicção e que as faturas que nos apresentam são honestas, justas e aceitáveis...
Imaginem a fábula de dinheiro que pode estar sendo cobrada a mais em serviços essenciais mal fiscalizados. No caso do transporte coletivo urbano é dinheiro vivo, dinheiro que sai do bolso e orçamento de gente humilde e do pagador de impostos. É natural que as fiscalizações sejam frágeis?
Os efeitos de estatísticas ruins e avaliações técnicas precárias viabilizam tremendas oportunidades de negócio dos “espertos” à custa dos “bobos”, nós.
Cascaes
6.12.2013








[1] Wikipédia em 6 de dezembro de 2013 - Um sistema (do grego sietemiun), é um conjunto de elementos interconectados, de modo a formar um todo organizado. É uma definição que acontece em várias disciplinas, como biologiamedicinainformáticaadministração. Vindo do grego o termo "sistema" significa "combinar", "ajustar", "formar um conjunto".
Todo sistema possui um objetivo geral a ser atingido. O sistema é um conjunto de órgãos funcionais, componentesentidades, partes ou elementos e as relações entre eles, a integração entre esses componentes pode se dar por fluxo de informações, fluxo de matéria, fluxo de sangue, fluxo de energia, enfim, ocorre comunicação entre os órgãos componentes de um sistema.
A boa integração dos elementos componentes do sistema é chamada sinergia, determinando que as transformações ocorridas em uma das partes influenciará todas as outras. A alta sinergia de um sistema faz com que seja possível a este cumprir sua finalidade e atingir seu objetivo geral com eficiência; por outro lado se houver falta de sinergia, pode implicar em mau funcionamento do sistema, vindo a causar inclusive falha completa, morte, falência, pane, queda do sistema etc.
Vários sistemas possuem a propriedade da homeostase, que em poucas palavras é a característica de manter o meio interno estável, mesmo diante de mudanças no meio externo. As reações homeostáticas podem ser boas ou más, dependendo se a mudança foi inesperada ou planejada.
Também pode-se construir modelos para abstrair aspectos de sistemas, como por exemplo um modelo matemático, modelos de engenharia de software, gráficos.
Em termos gerais, sistemas podem ser vistos de duas maneiras:
·         através da análise, em que se estuda cada parte de um sistema separadamente a fim de recompô-lo posteriormente.
·         através de uma visão holista, em que se entende que o funcionamento do sistema como um todo, constitui um fenômeno único, i.e., irredutível em suas partes.

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