Salto mortal e a Tecnologia – sistemas de faturamento -
bilhetagem
O “salto mortal” é o que os trapezistas faziam sem redes de
proteção e que o público fascinado via nos circos antigos. Era realmente emocionante
quando em silêncio a multidão observava o ato de coragem do atleta, mas o
resultado poderia ser desastroso. O espetáculo tinha custo e efeitos bem
definidos...
A Humanidade é o aprendiz de feiticeiro que descobriu a
varinha mágica à sua disposição e há anos faz estripulias mais e mais fora de
seu controle. Dá saltos tecnológicos sucessivos sem maior atenção aos efeitos
dessas “maravilhas”.
A coleção de inventos é fenomenal e aumenta sempre. O
processo de criação continua gerando novidades incríveis. Tudo depende da
criatividade e inteligência de pessoas extraordinárias e de conveniências
industriais, serviços e comerciais. Naturalmente a transformação de “uma boa
ideia” em produto é um caminho longo, incompreensível às pessoas leigas.
Nosso país não tem tradição industrial. Isso afeta demais a
capacidade de gerenciamento de serviços e produtos. Sem domínio sobre a arte de
fazer não sabe usar. Acreditamos em leis e decretos que são produzidos de forma
assombrosa. Obviamente o Poder judiciário não entende de Engenharia, Medicina
(a Engenharia do corpo humano), Física, Química e todo conjunto do que
denominamos “Ciências Exatas” e similares (Medicina, exemplificando).
A ignorância é um maná para os mais espertos e um veneno
para os ingênuos. A incapacidade de entender facilita a aceitação de qualquer
coisa charmosa, mas os riscos crescem exponencialmente com a qualidade e
utilidade do que usamos.
Estamos vendo “saltos mortais” apaixonantes, o trapezista é
o pagador de impostos, o usuário dos serviços essenciais, o paciente de
clínicas onde os médicos aplicam exames sofisticados etc.
Todos sabem que sequelas podem existir? Qual o custo real
das novidades?
Quando entramos num prédio, passamos a jusante de alguma
barragem ou decidimos viver perto de uma usina nuclear temos consciência do que
isso significa?
O perigo pode existir sob nossos pés. A verticalização
assombrosa das cidades brasileiras assusta.
A ingenuidade do povo leva-o a acreditar que instituições corporativas
(CREA, CAU e coisas similares) garantem um padrão. Quanta inocência. A tecnologia
necessária e suficiente para grandes obras escapa à quase totalidade dos nossos
gerentes técnicos.
Os riscos aumentam até no Japão, onde o acidente com a Usina
de Fukushima é surpreendente, mais ainda porque aquele povo não é leigo nem
incompetente.
Se grandes instalações podem causar acidentes catastróficos
(perguntem a bons profissionais o que significaria o rompimento de grandes
barragens ou a desintegração das usinas nucleares em Angra dos Reis), detalhes
não mortais, mas agressivos ao nosso dia a dia, têm condições de causar imensos
prejuízos.
Quando o processo de privatização das grandes
concessionárias nacionais começou criaram agências reguladoras e justificaram
seus custos dizendo que tudo aquilo seria para defender o povo e empreendedores;
apareceu um conjunto de repartições públicas que só faz crescer, mas corre
atrás do prejuízo da irresponsabilidade de contingenciamentos de verbas
praticado impiedosamente na gênese dessas instituições. Nenhum desses
componentes teve os recursos necessários e suficientes para se fortalecer. De forma
absurda o dinheiro destinado às agências reguladoras foi sempre reduzido ao
máximo e as piores influências sempre acabaram decidindo padrões gerenciais,
com raras exceções. No Setor Elétrico a complexidade do Sistema Interligado
demandou a formação de uma constelação de repartições públicas e privadas que
não nos salvou do racionamento de 2001 e por muito pouco não deixou o Brasil no
escuro alguma vezes. É um negócio apaixonante, contudo. Muita gente enriqueceu
simplesmente vendendo e comprando energia.
Serviços essenciais se são importantes precisam de bons
padrões gerenciais, os melhores possíveis. Pagamos, queremos e precisamos de
qualidade, confiabilidade, razoabilidade de tarifas e preços, segurança.
Vamos pensar no que mais dói, o bolso do usuário.
Como as concessionárias e os agentes reguladores calculam
tarifas?
Temos um exemplo local, o sistema de bilhetagem do transporte
coletivo urbano de Curitiba, onde nem a submissão a alguma agência reguladora
de bom padrão aconteceu.
Implantaram a “bilhetagem eletrônica”. O sistema[1]
é composto por catracas, telecomunicação, gerenciamento de informações e
relatórios que produzem dados para o cálculo das tarifas e avaliação de
carregamento de ônibus e terminais. Ou seja, contém muitos elementos que podem
viabilizar fraudes ou simplesmente informações erradas (a favor e contra os
empresários). São estratégicos, afetam diretamente a qualidade dos serviços.
Pode-se perguntar:
·
Quem e que empresa faz auditagens no sistema de
bilhetagem?
·
As entidades e pessoas encarregadas de auditar
tarifas e estatísticas têm preparo técnico e recursos para o trabalho que
realizam?
·
Quem paga e contrata as empresas de auditoria
existentes?
·
Onde estão os relatórios técnicos de aferição
das catracas, manipulação de dados, qualidade dos sistemas de controle e
cálculo?
·
A adoção de “novidades” tecnológicas precisa ser
acompanhada de preparação a favor do povo e das pessoas que usam e cuidam
dessas “traquitanas”. Isso aconteceu?
Curitiba usava um padrão de bilhetagem com fichas (feitas de
azamat). Eram fichas concretas,
visíveis, bem definidas e fáceis de serem controladas. Essas fichas podiam ser
testadas com balanças simples, de precisão, mas nada de especial. A compra das
fichas era feita nos guichês da URBS e em alguns lugares fáceis de serem
vigiados. O controle da coleta permitia a eliminação de fichas falsas e a
percepção de suas origens. O custo e risco da falsificação eram elevados em
relação ao ganho.
Esse sistema intuitivo, visível, fácil de ser controlado deu
lugar a uma novidade: a bilhetagem eletrônica.
A bilhetagem “inteligente” deveria oferecer alternativas de
uso, o que é perfeitamente compreensível. Que utilização teve? Vimos no edital
de outorga de concessões a que tivemos acesso que as empresas candidatas
deveriam ter experiência com bilhetagem eletrônica. Por quê? Que condição
estranha, afinal os sistemas modernos devem facilitar serviços e não complicá-los.
Ou seja, assim como acontece com a maioria dos serviços
essenciais simplesmente pagamos a conta, sem saber e ter convicção e que as
faturas que nos apresentam são honestas, justas e aceitáveis...
Imaginem a fábula de dinheiro que pode estar sendo cobrada a
mais em serviços essenciais mal fiscalizados. No caso do transporte coletivo
urbano é dinheiro vivo, dinheiro que sai do bolso e orçamento de gente humilde
e do pagador de impostos. É natural que as fiscalizações sejam frágeis?
Os efeitos de estatísticas ruins e avaliações técnicas
precárias viabilizam tremendas oportunidades de negócio dos “espertos” à custa
dos “bobos”, nós.
Cascaes
6.12.2013
[1] Wikipédia em 6 de dezembro
de 2013 - Um sistema (do grego sietemiun),
é um conjunto de elementos interconectados, de modo a formar um todo
organizado. É uma definição que acontece em várias disciplinas, como biologia, medicina, informática, administração. Vindo do grego o
termo "sistema" significa "combinar", "ajustar",
"formar um conjunto".
Todo
sistema possui um objetivo geral a ser atingido. O sistema é um conjunto de órgãos funcionais, componentes, entidades,
partes ou elementos e
as relações entre eles, a integração entre esses componentes pode se dar por
fluxo de informações, fluxo de matéria,
fluxo de sangue, fluxo de energia, enfim, ocorre comunicação entre os órgãos
componentes de um sistema.
A
boa integração dos elementos componentes do sistema é chamada sinergia,
determinando que as transformações ocorridas em uma das partes influenciará
todas as outras. A alta sinergia de um sistema faz com que seja possível a este
cumprir sua finalidade e atingir seu objetivo geral com eficiência; por outro
lado se houver falta de sinergia, pode implicar em mau funcionamento do
sistema, vindo a causar inclusive falha completa, morte, falência, pane, queda
do sistema etc.
Vários
sistemas possuem a propriedade da homeostase,
que em poucas palavras é a característica de manter o meio interno estável,
mesmo diante de mudanças no meio externo. As reações homeostáticas podem ser
boas ou más, dependendo se a mudança foi inesperada ou planejada.
Também
pode-se construir modelos para abstrair aspectos de sistemas, como por exemplo
um modelo matemático, modelos de engenharia de software, gráficos.
Em
termos gerais, sistemas podem ser vistos de duas maneiras:
·
através da análise, em que se estuda cada parte de um sistema
separadamente a fim de recompô-lo posteriormente.
·
através de uma visão holista, em que se entende que o funcionamento do
sistema como um todo, constitui um fenômeno único, i.e., irredutível em suas
partes.
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