Medições, padrões, inviolabilidade e confiabilidade
O Setor Elétrico teve seu início mais elaborado nas medições
de energia e demanda. As concessionárias e grandes consumidores reuniam-se para
discussão de padrões e sistemas de medição, onde o assunto ia de uma ponta à
outra da contagem dos preciosos MWh e MW.
No início da década de oitenta saímos por Curitiba para
comprar um relógio de pêndulo, o mais preciso possível, para podermos ter uma
referência adequada de tempo. Era preciso calibrar e instalar esse relógio com
muito cuidado e a leitura e aferição dos aparelhos de medidas nos pontos de
entrega ou intercâmbio de energia passava por mil cuidados permanentes.
Podia-se perder (ou ganhar) muito se, por qualquer descuido, a medição não
funcionasse bem.
Naquela época começavam a existir aparelhos mais
sofisticados, eletrônicos. O problema era importar. A reserva de mercado era
uma barreira, mais ainda se existisse dentro do equipamento qualquer coisa que
parecesse ligado à área de Informática.
Felizmente aos poucos as barreiras diminuíram e pudemos até
montar laboratórios sofisticados, como o LAC (atual LACTEC).
O problema gradativamente mudou de enfoque. Qual a
confiabilidade dos sistemas mais modernos? Seriam invioláveis? Resistiriam às
condições de trabalho?
Vimos, por exemplo, as dúvidas em torno das urnas
eletrônicas e o escândalo da contabilização informatizada das eleições para
governador do estado do Rio de Janeiro. Se não fosse a pressão pela mídia
Leonel Brizola teria perdido na contagem dos votos...
Continuamos reféns de sistema de confiabilidade discutível,
como, parece que já aconteceu o preço de prateleira mostrar um valor e na hora
de passar pelo caixa aparecer alguma diferença.
Temos questões abundantes nos arquivos dos PROCONs e a
ausência de uma legislação severa e muitos contratos pecam pela ingenuidade de
uma das partes, pelo menos. Nada garante que sendo eletrônico o sistema seja à
prova de fraudes e/ou falhas.
Com certeza a melhor inspeção é o acompanhamento do
histórico de medições e observação de cenários. Quando os desvios acontecem
acabam sendo indicadores de problemas eventuais que merecem auditorias para
tranquilidade geral e individual das vítimas possíveis.
No caso do transporte coletivo urbano há muito a ser
auditado permanentemente. O sistema movimenta fortunas e qualquer desvio pode
ser milionário.
Note-se, transcrevendo um e-mail de um amigo:
"-queda
de 2,5 ( dois milhões e meio de passageiros/ mês) desde 1994, quando o número
de passageiros transportados era de 27 milhões em 1989, de 26,5 milhões em
1995, 27.9 milhões em 1996 e hoje é de 25 milhões segundo a URBS., com o
inexplicável aumento da frota em 53%. Em 1994 a frota era de 1.300 veículos e
hoje é de 1950 veículos (URBS, 2013). Como se explica a queda do número de
passageiros com o aumento da frota e da quilometragem rodada?" a
referência a uma frequente lotação
máxima experimentada cotidianamente pelos usuários ?
Até
seria possível que um aumento na frota com redução de passageiros, mas isto
seria sentido pelos usuários no desafogamento/redução da lotação... isto não é
algo evidenciável, pelo contrário, os ônibus continuam excessivamente lotados,
assim como os tubos e terminais.
...
Ou seja, na discussão sobre os contratos de concessão e
solicitações de aumentos de tarifa dos ônibus de Curitiba e RMC devemos, para
não haver dúvidas atrozes, exigir uma auditoria técnica séria, permanente, competente
e da maior amplitude nas condições de bilhetagem e apropriação de valores
registrados.
Qualquer sistema de tarifação de serviços e controle de clientes exige
atenção especial.
Parece-me que isso não acontece em Curitiba.
Insistindo: alguém viu relatórios sistemáticos de auditoria com
anotação de responsabilidade técnica feita por profissionais independentes, de
credibilidade comprovada e competência insuspeita?
Esperamos que tudo esteja justo e perfeito, mas para haver essa
certeza devemos cobrar, talvez via Ministério Público ou de outra forma em Ação
Civil Pública as informações que todos precisam para ter em condições de
afirmar ao povo de Curitiba e RMC que devem pagar algo próximo a um euro, um
dólar e meio, três reais e centavos por viagem de ônibus superlotados.
Abraços
Cascaes
P.S.: e nas outras cidades brasileiras, como fazem esse tipo de
análise?
Cascaes
19.3.2013
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