Os usuários de automóveis têm uma atenção especial das autoridades federais; devem usar cinto de segurança, os carros precisam de airbags, as crianças estarem em cadeirinhas especiais, os carros devem ser feitos com técnicas de segurança especial e os donos pagarem seguros e taxas anualmente.
E os passageiros dos sistemas de transporte coletivo urbano?
Os ônibus evoluíram muito. Se sairmos do Brasil descobriremos veículos fantásticos (inclusive alguns feitos em Curitiba, Volvo), complementados por linhas metroviárias, monotrilhos, bondes e até barcaças. As grandes cidades mais inteligentes apresentam dezenas de quilômetros de calçadões. Os passeios são transitáveis, contínuos, seguros (não são perfeitos) e as ciclovias e ciclofaixas aparecem rotineiramente.
Vivemos no Brasil, passamos por décadas de crise econômica e perturbações institucionais. Isso foi uma tremenda tragédia, mal estudada do ponto de vista da Engenharia, Arquitetura e Urbanismo. A História, com raras exceções, só trata de fatos políticos.
Emergimos da penumbra graças à Agroindústria, de uma maneira especial, e a outras atividades que as multinacionais deixaram para nós. Sobretaxas violentíssimas, cotas ridículas, normas técnicas hostis, juros absurdos, agiotagem liberada explorada até pelas estatais brasileiras e banqueiras etc. têm mantido nosso povo na marginalidade com o aplauso de economistas alienados e a omissão total dos outros profissionais, o que importa é oferecer pão e circo para gáudio dos alienados.
O transporte coletivo urbano é um serviço que reflete nitidamente o perfil do povo local. Houve tempo em que o curitibano, mais exigente, sonhava com o melhor, agora contenta-se com pagar o mínimo, incapaz de defender até sugestões que viabilizariam subsídios e maior qualidade e segurança.
Dizemos que o transporte coletivo urbano é um exemplo porque o Poder Concedente é o município. Compete ao prefeito decidir as formas de gerenciamento, tecnologias, custos, capilaridade, segurança, apoio fiscal etc. sobre a forma de oferecer ao povo os meios de transporte coletivo (e individual). Ele decide formando sua equipe e cobrando resultados (ou obedecendo).
Em 10 de junho de 2010 tivemos um acidente gravíssimo na Praça Tiradentes. Ao final a culpa será do mordomo, isto é, do motorista. Não vão dizer em que condições esses profissionais trabalham. Não descreverão os exames médicos e psicológicos a que estão sujeitos rotineiramente, via de regra sob os cuidados de sindicatos nem sempre trabalhando a favor de seus sindicalizados. Dificilmente a empresa operadora será responsabilizada pelo que aconteceu (tem bons advogados) e as vítimas, bem enterrem-nas, talvez com o funeral pago pela empresa de ônibus, e os demais, ainda que sob seqüelas permanentes, vão para o SUS e INSS.
Vivemos de desilusão em desilusão. Quem tem mais de sessenta anos já viveu demais, passou por inúmeras hipóteses de aprimoramento da nossa sociedade. Felizmente agora existe a internet, temos mais uma vez esperança.
Será que vamos melhorar?
O que devemos fazer para reverter essa onda aviltante?
Cascaes
11.6.2010
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