sábado, 6 de março de 2010

Custo de operar ônibus com altas taxas de ocupação

Custo da Sobrecarga




A especialização profissional é importante, mas pode trazer seqüelas perigosas. O super profissional em alguma atividade normalmente terá dificuldade de compreender outros efeitos e fatores em torno daquilo que entende.

Na vida social conhecemos pessoas que expõem opiniões de forma tão radical que chegam a incomodar, pois os efeitos de suas atividades lesionaram suas inteligências, sempre lembrando que o treinamento e a repetição de atos e pensamentos cria convicções eventualmente erradas. Isso é sensível para quem gosta de história e fica lembrando das fogueiras da Inquisição (Giordano Bruno, 1973) e de atos de execução em massa por motivos ideológicos. O ser humano está longe de ser tão inteligente quanto se diz ser.

Na Engenharia temos riscos enormes quando lidamos com pessoas experientes, antigas de profissão. Aqui também vale o que disse Bertrand Russell (Princípios de Reconstrução Social, 1958) em um de seus livros “a certeza absoluta é por si só suficiente para impedir qualquer progresso mental naqueles que a possuem”, de alguma forma lembrando Sócrates (Rossellini, 1971) que a dois e meio milênios passados afirmava “só sei que não sei nada...”.

Estamos, em Curitiba, discutindo a mudança do modelo institucional do transporte coletivo urbano da capital e vimos que a URBS considera, para seus cálculos tarifários, taxas de carregamento elevadas em horário de pico, acreditando que dessa maneira reduzirá o custo do sistema. As definições técnicas do edital vieram de posicionamentos de seus profissionais. Pesquisando um pouco, contudo, descobrimos detalhes que nos preocupam (ver http://otransportecoletivourbano.blogspot.com/2010/02/analise-do-transporte-coletivo-urbano.html  ).

Afinal, operar com ônibus em lotação máxima é econômico?

Uso quase diariamente algum ônibus, pois tenho a felicidade de morar perto de eixos com muitas opções de transporte. O que aprendemos assim?

Os ônibus excessivamente carregados são mais lentos, demoram mais nos pontos de embarque, devem estar próximos ou acima do peso máximo por eixo, consomem mais combustíveis, gastam mais os seus pneus, exigem mais de freios, motor, suspensão, asfalto etc.

Isso tem parâmetros seguros e esses valores são aproveitados nos cálculos de custo?

Naturalmente o custo da mão de obra pesa muito nas tarifas, mais motoristas são contas maiores. Mais mecânicos também, tempo de manutenção, recuperação de pistas e riscos de acidentes, sem contar com a perda de passageiros, pois nem todos aceitam a espremeção dentro de um veículo sobrecarregado.

Fica a pergunta: temos realmente Engenharia de Transportes bem preparada?

Normalmente sentimos a simplificação exasperante de lógicas gerenciais medíocres. Não é privilégio de serviços públicos. Não é sem razão que muita empresa desaparece, quebra.

O problema é que falando de transporte coletivo urbano estamos tratando de serviço essencial e agora, com a saturação das cidades, em poluição, acidentes (2 mortos diariamente, em média, em acidentes de trânsito na RMC), desconfortos e pesadelos urbanísticos.

Queremos e podemos ter transporte coletivo urbano de boa qualidade em Curitiba, afinal, num ano de crise internacional e gripe suína a PMC terminou com um saldo de cento e onze milhões de reais em caixa (http://otransportecoletivourbano.blogspot.com/2010/03/prefeitura-de-curitiba-pode-evitar.html ), por quê não melhorar o serviço “transporte coletivo”?

Cascaes

6.3.2010





Bibliografia

Célio de Oliveira Cordeiro, H. M. (outubro de 2006). A qualidade do sistema de transporte coletivo por ônibus em Manaus. XXVI ENEGEP - ABEPRO. Fortaleza, Ceará, Brasil.

Ponti, C. (Produtor), Montaldo, G. (Escritor), & Montaldo, G. (Diretor). (1973). Giordano Bruno [Filme Cinematográfico]. Itália.

Rossellini, R. (Diretor). (1971). Sócrates [Filme Cinematográfico]. Itália: Versátil Home Vídeo.

Russel, B. (1958). Princípios de Reconstrução Social. São Paulo: Companhia Editora Nacional.

Um comentário:

Ghidini disse...

Cascaes,

Como sempre, muito bem colocado seu raciocínio. A questao da sobrecarga, sem dúvida aumenta os custos do transporte. Parece um raciocínio simplista demais esse de que colocar 300 passageiros em um ônibus (vide o Sr. Jaime Lerner em entrevista disponível no youtube:http://www.youtube.com/watch?v=vJR9uCSyGKM)seja mais "barato" do que se colocarmos 230 que é o que se recomendava inicialmente pelo fabticante (VOLVO)...

rg

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