quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sobre a velocidade dos ônibus no novo Edital do TC de CWB

Saudações @bicis.com


Miranda

Sobre a velocidade dos ônibus no novo Edital do TC de CWB

Infelizmente ainda não conheço o Edital do Transporte Coletivo. Onde ele está disponível para que eu possa ler?

No entanto, sobre o que vem sendo veiculado nos diversos comentários, alguns pontos arrepiam-me os cabelos. Um deles, este da obrigatoriedade das empresas concorrentes aumentarem o tempo de percurso. Aos leitores leigos no setor transportes urbanos pode parecer que se trata de uma conquista para o passageiro ter sua viagem mais rápida. Não. Não se trata disto. O ponto em questão é a diminuição da frota e o aumento do lucro das empresas.

Ou seja, viagens mais rápidas implicam em diminuição no número de veículos em operação. Quanto mais rápida as viagens menores os intervalos entre partidas, fazendo com que no fluxo de marcha da frota um mesmo veículo possa realizar mais viagens ao longo do dia. Como parece que a remuneração das empresas continuará a ser realizada por quilômetro rodado, velocidades mais altas se traduzirão em frotas menores, menor número de operadores, mais viagens a realizar, otimização no uso dos veículos, menor ociosidade da frota e maior lucro para as operadoras do sistema. Tudo isto está por trás do aumento da velocidade.

Por outro lado, tal medida também implicará no aumento dos atropelamentos de pedestres e de ciclistas nas canaletas do sistema; no aumento dos acidentes nas interseções; em maior estresse dos motoristas; maior pressão dos operadores (motoristas e cobradores) sobre os passageiros no momento do embarque/desembarque, com prejuízo real aos idosos e deficientes físicos; e até possíveis acidentes entre veículos da mesma empresa.

Algumas medidas precisam ser rapidamente realizadas para aumentar a eficácia do sistema e sua eficiência. Uma delas é defasar as estações tubos, hoje dispostas em paralelo. Com esta simples medida será possível haver ultrapassagem de um veículo sobre o outro, quando estiverem parados, otimizando a operação, em especial nos períodos de pico. Assim, um veículo poderá entrar no meio da operação ou pular uma parada quando estiver em operação, atuando como uma linha expressa.


Outra opção seria o investimento em “transponder”, colocados à frente dos ônibus e em conexão com semáforos nas interseções, visando criar “ondas verdes” para o sistema nos cruzamentos. Com isto de fato as velocidades comercial e operacional do sistema seriam aumentadas, com ganhos reais para todos: passageiros, operadores e empresa gerenciadora. Também há necessidade de se rever o modelo da estação tubo, em especial o posto do cobrador, visando agilizar o próprio embarque dos usuários, além de melhor protegê-los das intempéries e das variações climáticas adversas (excesso de calor ou frio).


Também é fundamental que se estenda para todas as demais canaletas os investimentos realizados no Eixo Boqueirão e na Av. Fernando Moreira, quando foi aplicado pavimento rígido em concreto que certamente aumentou o conforto, a durabilidade e, mesmo que pouco, a velocidade dos coletivos naqueles locais.

Estas são algumas considerações que faço a propósito apenas deste item da velocidade contido no Edital que repito: não li. Mas veja não acho que a velocidade deva ser aumentada dos atuais 23 km/h, segundo dados da própria URBES para algo como 30 km/h apenas com a pressão dos pés dos operadores. Isto deve ocorrer, como disse acima com medidas voltadas à diminuição do tempo de parada em semáforos (uso do “transponder”), racionalização das paradas etc. No trânsito quem sempre mata é a velocidade. Portanto, não queremos velocidades excessivas em nosso sistema de coletivos, a exemplo do que ocorre na cidade do Rio de Janeiro onde os velhos têm de ter punho de ferro para se equilibrarem com a direção excessivamente agressiva dos motoristas.

Neste ponto, para finalizar, queria comparar o sistema de Curitiba e o de Porto Alegre. É claro que aqui o sistema é tido como melhor. E é. No entanto, há uma grande diferença entre a cultura daqui, imposta pelos administradores, e a de lá, definida por reclamos continuados da população. Enquanto aqui os técnicos impõe cada vez menos bancos nos coletivos sobre o pretexto de que transportam rapidamente o usuário, lá em Porto Alegre os passageiros exigem a presença do maior número de bancos possíveis no interior dos veículos. Ou seja, o sentido de conforto deve ser ditado pelos usuários e não por quem planeja para ele e que jamais viajou dois dias seguidos no interior de um veículo coletivo.

Antonio Miranda

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