O transporte coletivo na Região Metropolitana de Curitiba –
o teatro do absurdo
O tema integração do transporte coletivo de Curitiba e sua
região metropolitana mostrou à população um debate tecnocrático por excelência.
O tema é político e tremendamente importante para centenas
de milhares de pessoas que residem por aqui, com certeza mereceria uma discussão
entre todos os prefeitos da RMC, vereadores, lideranças empresariais, Governo
do Estado, especialistas e análises radicalmente diferentes. Por onde anda esse
pessoal?
O que vimos?
É muito fácil para quem não precisa caminhar (pelas nossas
calçadas tremendamente irregulares) e usar os ônibus decidir contra um sistema
que se integrou à vida dos paranaenses nessa região.
O transporte coletivo aqui existente na RMC com ônibus que oferecem
capilaridade, visibilidade e oportunidade de acesso a escolas, hospitais,
parques, áreas de lazer e cultura, postos de trabalho etc. sem os tremendos
subsídios que outros modais coletivos exigem foi uma conquista de muitos ao
longo de décadas.
O que chamamos de ônibus (excluindo daí os bondes, trens,
metrôs etc.) evolui sem parar e permite inúmeras formas de gerenciamento,
layout, tecnologias, fontes de energia etc.
O desafio da otimização é permanente.
Curitiba é modelo internacional graças às canaletas e
organização de seu sistema criando o que agora é denominado BRT. O sucesso dos
terminais, veículos otimizados, as pistas dedicadas, o gerenciamento técnico e
durante poucos anos da frota pública, pagamento por km, gerenciamento enérgico
e preocupação com a manutenção viabilizaram a mídia técnica de empresas e
profissionais paranaenses no resto do mundo. O transporte curitibano
integrou-se parcialmente ao das cidades conurbadas e outras mais distantes e
menores, onde a carência de serviços especializados é uma realidade cruel. A
RIT deu, com a integração, oportunidade de muita gente mais humilde usufruir
atendimentos e escolas que lá seriam quase impossíveis.
Aqui, agora, parece que se trabalha para a desmoralização do
que existe, desde a invasão de pistas que servem aos ônibus, ambulâncias, bombeiros
e ao policiamento até a falta de cuidado e critérios precários de
repavimentação das pistas.
O episódio do debate em torno da integração foi kafkiano.
As dificuldades financeiras do Governo do Estado são
evidentes e explicáveis. Afinal estamos em período de recessão com a queda das
exportações para a Argentina, a perda de valor comercial de nossos produtos e
até de indústrias que não conseguem competir com países onde o trabalho escravo
é rotina e a sanha fiscal menor, menos burocracia e proatividade tecnológica.
Sem apoio federal o Paraná é principalmente exportador de
impostos...
Agora, diante das dificuldades enfrentadas pelo estado do
Paraná, seria o momento de diálogo sem rancores entre os políticos de todos os
partidos a favor de nossa gente mais humilde; o que vimos, contudo, foi um
embate duro e já uma sucessão de greves de motoristas e cobradores, o saco de
pancadas, trabalhadores que, em desespero, param para receber salários.
Tivemos manifestações, auditoria promovida pela Câmara de
Vereadores de Curitiba, entrevistas etc. e agora, aproveitando as férias e a
distração criada por escândalos federais o peso de decisões que nos preocupam
muito.
Curitiba gasta a favor da integração, que poderia ser mais
inteligente e racional, mas também recebe o benefício de áreas enormes de
preservação ambiental na RMC para ter água menos poluída, indústrias que mantêm
empregados que procuram a capital para gastar seus salários, clubes e áreas de
lazer onde os curitibanos vão nos finais de semana, cidades dormitório, espaços
de hortaliças e frutas próximos etc.
Ou seja, a Região Metropolitana de Curitiba criou uma
verdadeira simbiose entre seus habitantes.
Comparando o que foi gasto para a Copa do Mundo podemos e
devemos perguntar, a integração deve deixar de existir?
Cascaes
31.1.2015