domingo, 29 de maio de 2011

O que Lerner disse

Assunto: Re: [quixotando] Novo comentário em O que Lerner disse?.

Prezados Cascaes, Ghidini e demais companheiros,

A matéria deve ter sido escrita por um colunista aparentemente jovem, que não atravessou todo o processo de construção do sistema de transportes moderno de Curitiba, desde o início dos anos 70. É possível perceber no interior do comentário certo ranço contra o ex-governador e até para com algumas das suas ideias. Não diria ser uma matéria ao estilo da imprensa marrom, mas muito dela se aproxima no uso de algumas expressões. Vejamos:

"Por um lado, pode-se pensar que seja apenas a vaidade do ex-prefeito que esteja se manifestando." "...muito bem das pernas, a passagem pela prefeitura continua sendo seu xodó." "E refletir se o ex-prefeito pode ter razão em sua denúncia ou se estamos apenas vendo um resmungão infeliz com o que fazem com seu legado."

Penso não ser tais expressões um problema grave no comentário do jornalista. Apenas constato certo ranço quanto ao ex-governador, ao ex-prefeito, de quem nunca fui partidário e para quem nunca dirigi um só voto.

Entendo, diferentemente do ex-prefeito (dado que como governador afirmo deixou muito a desejar), que o sistema ônibus tem limites, como disse Ghidini. Demandas superiores a 35 ou 45 mil pas./h sentido devem sim ser atendidas por sistemas metropolitanos. De fato não há como manter ônibus bi-articulados operando em nível de eficiência plena para atender demandas deste porte.Agora andam pensando em ônibus com três articulações, como se a frenagem de um ônibus operasse com a mesma eficiência de um sistema sobre trilhos. Isto seria um crime contra a vida. Um bólido desses, a 60 km/h, fazendo ultrapassem de outro bólido numa terceira faixa que está sendo pretendida pela administração não conseguiria parar em 30 ou 40 metros diante de uma criança surgida do nada.

Enterrar tais sistemas é solução mundial há quase cem anos. Liberem o nível do solo para os pedestres, para as bicicletas, para a vida. Também para sistemas de menor capacidade, capazes de fazerem curtas ligações para transportar com harmonia nossos idosos, crianças e deficientes físicos (e assim continuarei a chamá-los porque eles não são portadores de nada. Eles têm sim alguma deficiência que precisa ser amparada ou ajudada para que ganhem liberdade em suas mobilidades pelo território das cidades).

Para ganhar em eficiência, no caso da manutenção da cidade concentradora de oportunidades, com a permanência de uma hierarquia de dominação do centro sobre suas periferias, não há como deixar de enterrar o sistema de transporte de massa. Ou bem se promove mudanças no uso do solo, cujos reflexos somente serão sentidos daqui há 20 ou 30 anos; ou teremos de enfrentar o desconforto por cinco ou mais anos para ver liberado o nível do solo após as obras de implantação do sistema metrô.

O problema maior a ser debatido é que a Prefeitura está com todos os gatilhos prontos para deflagrar as obras de ampliação das canaletas do sistema expresso. Ela quer, como em Bogotá, permitir a ultrapassem de um bi-articulado por outro, ou de um "ligeirinho" sobre um bi-articulado. Neste ponto me pergunto, será que estão prevendo esta medida também para o Corredor Norte/Sul? Ou somente para os outros corredores? Isto porque se há a intenção da realização do metrô, não há porque gastar recursos em um sistem que logo será alterado. Uma vez que somente obtemos as informações de forma homeopática ao longo do tempo, nada podemos argumentar de imediato, somente depois da iniciativa tomada.

Outro ponto a colocar é que a Prefeitura de Curitiba jamais teve posição democrática. A ditadura do IPPUC, de seus técnicos, sempre subservientes aos ditames dos administradores no poder, jamais se interessou em debater com a população os rumos da cidade. A autocracia "técnica" sempre foi preponderante sobre os interesses dos cidadãos. Os seus técnicos sempre disseram: "a população acabará aprovando aquilo que nossa sabedoria e criatividade definir para todos". Embora possam jamais terem dito tais palavras, agem como se assim tivessem feito e fazem.

Para se ter uma ideia de como a autocracia do IPPUC é tamanha e existe de fato reserva de mercado, cito aqui o envio de uma mensagem do André Caon recentemente. Ele me informou sobre a liberação pelo IPPUC do prazo de manifestação de interesse na participação da concorrência do GEF (Gas Energy Free) programa das Nações Unidas, coordenado no Brasil pela ANTP, em parceria com prefeituras, para implantação de mais de 600 km de ciclovias, ciclofaixas em várias cidades brasileiras. Inicialmente, os recursos serão para projetos. Mas uma vez realizados, a ONU concederá os recursos para obras. Não sei afirmar qual seja a contra-partida municipal. O fato é que há, da parte da ONU, a exigência da presença de ao menos seis empresas interessadas. No caso de Belo Horizonte, por onde o programa foi iniciado, a prefeitura concedeu quinze dias para manifestação de interesses. Depois, concedeu mais quinze dias porque na primeira oportunidade apareceram apenas cinco empresas. Aqui o IPPUC, sem divulgar o edital, concedeu apenas uma semana, a partir da última quinta-feira, como adiantou-me o companheiro André Caon. E então. Esta não é uma comprovação cabal de que o IPPUC promove a política da Ditadura Rochedo (ou seja das panelinhas). Para completar estas informações, adianto que a análise do currículo valerá por 70% dos pontos na concorrência, sendo os outros 30% definidos pelo menor preço. Portanto, esta concorrência pode muito bem ser canalizada e monopolizada.

Chega, já escrevi muito.
Desculpem-me por tantas palavras.
Bom domingo a todos.
Miranda

Nenhum comentário: