quarta-feira, 1 de setembro de 2010

As cadeirinhas e o transporte coletivo

A resolução do CONTRAN determinando a utilização de cadeirinhas especiais para crianças em automóveis é no mínimo intrigante. Muitos são os recursos modernos a favor da segurança em veículos e o CONTRAN centrou uma decisão até polêmica, diante dos resultados que os autores do livro Superfreakonomics (As cadeirinhas de crianças nos carros só servem até os dois anos, quando a criança é pequena e não cabe nos cintos normais. Depois, não há diferença estatística em termos de vidas salvas.
Legal que eles até sugerem que os cintos traseiros sejam infantis, pq 80% das pessoas que os usam são crianças de até 12 anos) destacam nos EUA. Lá a existência de piscinas em residências mostrou-se muitíssimo mais grave que a utilização ou não desse equipamento de segurança. E se a segurança das crianças é importante, por quê não determiná-las em taxis, ônibus escolares e de transporte coletivo urbanos e interurbanos?
Considerando a intensidade da multa (7 pontos perdidos na carteira do motorista e R$ 191,54 de multa) pode-se imaginar a gravidade percebida pelos especialistas que a definiram. Insistindo, contudo, se é tão perigoso para uma criança ir sentada no banco de trás de um automóvel, se o cinto de segurança não é suficiente, por quê desprezam a segurança de crianças, jovens, adultos e idosos em ônibus urbanos, por exemplo?
A falta de coerência de nossas autoridades é preocupante. Temos situações de risco consideráveis. Em Curitiba, ilustrando, os ônibus que trafegam pelas canaletas (mão e contramão) podem atingir 60 km/h, o que significaria, num impacto frontal, 120 km/h de velocidade relativa, condição que certamente matará muita gente. Além disso, esses veículos em todas as cidades brasileiras, articulados ou não, competem com pedestres, ciclistas, motociclistas, taxistas e motoristas de carros e caminhões espaços cada vez mais reduzidos.
É louvável a preocupação do CONTRAN, devemos, contudo, perguntar:
E os ônibus? Será que dentro deles as crianças estarão mais seguras?
O Brasil é um país estranho. Nossa capital foi instalada no centro do país e lá funcionários já antigos em suas salas ditam regras para o Brasil inteiro. Essa centralização é perigosa. Aliá, gravíssima em todos os sentidos, a começar pela distribuição dos impostos que faltam aos municípios e estados, de onde saem montanhas de dinheiro que desaparecem em contas mágicas do Banco Central.
Segurança das crianças, quanto existe por fazer... Podemos começar pelas calçadas, pelas proteções que deveriam ter para que meninos e meninas não saíssem em direção às ruas sem pensar, na educação de motoristas e responsáveis por esses futuros adultos, na importância da direção segura a favor do pedestre etc.
No Brasil “a coisa” parece andar bem quando é para inventar custos e multas. Precisamos repensar essas estratégias, talvez descentralizar leis que, se são ótimas para os funcionários federais em Brasília, talvez não sejam adequadas por aqui, onde, quem sabe, outras ações seriam amais eficazes, como, por exemplo, proibir radicalmente que motoristas e veículos precários dirijam.
Com bom senso o Brasil será melhor. Isso, contudo, dependerá muito de quem elegermos. Por isso é extremamente importante o voto consciente, a atenção nas qualidades de nossos candidatos. Nossos erros, eleitores, têm custado a vida de centenas de milhares de brasileiros...

Cascaes
1.9.2010

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