Pesadelo operacional, o fim da integração no transporte
coletivo metropolitano na RMC
Talvez algum dia os brasileiros acordem para a importância
superior do gerenciamento técnico das cidades, dos estados e da União às
simples conveniências políticas e eleitoreiras.
Vimos tragédias nesse início de 2013 de envergonharem
qualquer mestre de obras, quanto mais os bons profissionais em Engenharia
porventura existentes. Vítimas da demagogia e despreparo de governantes,
parlamentares e até funcionários de repartições públicas e concessionárias
dedicados a serviços essenciais, muita gente morreu, ficou aleijada, viu suas
moradias destruídas etc. enquanto o Governo só fala e pensa na Copa do Mundo e
algumas bolsas a mais para apaziguar eleitores que lhe interessam.
No Paraná vivemos numa situação kafkiana.
Com a derrota em Curitiba, o Governo do Estado, amargando
ainda prejuízos fiscais com atitudes intempestivas do Governo Federal, decidiu
encerrar o subsídio ao transporte coletivo urbano integrado da Região
Metropolitana de Curitiba (RMC), salvo melhor juízo.
Podemos analisar e discutir eternamente as vantagens e
desvantagens da integração, mas com o fim sumário em maio, a mudança será operacionalmente
colossal; estamos preparados para isso? Será que todos pararam para pensar nas
consequências, no “day after”?
Atualmente, após tantos anos de integração temos linhas
embaralhadas, os terminais estão feitos para suportar a integração, não têm
barreiras e catracas entre ônibus da RIT e aqueles de Curitiba, assim como em
alguns outros municípios da RMC. Com o final da integração onde e quais linhas
operarão? Onde os passageiros poderão embarcar, como identificarão as melhores
opções e quanto pagarão pelas passagens?
Os empresários terão de imediato ônibus, motoristas,
cobradores e mecânicos para trabalhar na ampliação da frota que perde
otimização com a desintegração da RIT?
O Terminal da Guadalupe suportará mais ônibus? Existem
terminais em Curitiba ou áreas de estacionamento e regulação dos ônibus da RMC
na condição operacional que se avizinha?
Será que todo mundo enfiou a cabeça em algum buraco,
apelando para a solução “avestruzeana”?
Parece que o sofrimento do povo é secundário.
Pretende-se criar um pesadelo para o tarifaço pretendido
pelas empresas?
A história do “bode russo” é conhecida. Uma família em
conflito de repente tem que abrigar um bode em casa por decisão do chefe
familiar (homem ou mulher). A partir desse momento todos começam a detestar e
discutir a presença do bode e se lembrar de como era boa a casa antes do
intruso peludo e fedorento. Quando o mal-estar torna-se suportável, o chefe de
família manda retirar o bode da casa. A partir aí a felicidade e concórdia voltam
a reinar, todos felizes com a distância do cheiroso e a utilização exclusiva
dos seus quartos e salas.
Qual é a estratégia reinante? Não acreditamos em falta de
inteligência. Existe opção decidida?
O Ministério Público deveria entrar em cena para cobrar
explicações preventivas, assim como os sindicatos, CREA, CAU, IEP, vereadores
etc. A prudência e até a possível responsabilização pelo que ocorrer exigem
ações judiciais e técnicas de embasamento de prováveis acusações.
É também assunto para todos os municípios do Paraná, afinal,
se o subsídio for mantido, como ficam outras regiões do estado com cidades
conturbadas. Isso foi colocado com vigor, não pode mais ser esquecido.
O pesadelo, contudo, será o período de ajustes. Gente
humilde será sacrificada ao extremo. Trabalhadores gastarão mais tempo em seus
deslocamentos, estudantes sem direito a uso de automóveis ($$$) poderão perder
aulas, o trânsito vai piorar...
Curitiba era uma cidade responsável e modelo de urbanismo.
Poderá voltar a sê-lo. Mais importante que critérios de desenho urbano,
contudo, é a operação dos sistemas existentes, a manutenção, a confiabilidade,
a utilização otimizada das concessionárias, equipamentos urbanos, ruas, etc. e
serviços existentes.
Uma metrópole não pode aceitar improvisações evitáveis, mais
ainda, a falta de transparência técnica e de informação necessária e suficiente
à vida justa e merecida de seus habitantes.
Cascaes
12.4.2013
P.S.: se você usa a RIT, sabe qual será a situação a que
estará sujeito se a integração acabar?
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